Tudo começou com um incômodo. Pequeno, mas insistente. Toda vez que jogava cascas de legumes, borra de café ou restos de frutas no lixo comum, algo dentro de mim pesava. Eu sabia que aquele “lixo” ainda tinha vida. Sabia que, em outro destino, ele poderia virar algo bom. Mas morando em um apartamento pequeno, sem varanda, compostar parecia fora de cogitação.
Foi então que comecei a buscar alternativas. Porque se tem uma coisa que aprendi com o tempo é que a sustentabilidade urbana exige criatividade. E principalmente: vontade.
Nesse processo de investigação (e muitos testes), encontrei meu caminho na compostagem com balde fechado. Uma solução simples, acessível e perfeita para quem tem pouco espaço — e muita vontade de fazer diferente. Hoje, meu lixo orgânico não vai mais para o aterro. Ele volta para a terra. Alimenta meu jardim vertical, fortalece o solo e fecha um ciclo lindo entre a cozinha e as plantas da minha casa.
Neste artigo, vou te contar como funciona minha rotina, o que aprendi (na prática!) e por que essa pequena mudança transformou não só meu lixo, mas também meu olhar sobre o que é possível fazer mesmo em apartamentos onde mal cabe uma planta extra.
Por que Fazer Compostagem em Apartamento?
Quando a gente começa a compostar em casa, percebe na prática o quanto de resíduo orgânico é produzido todos os dias. Casca de banana, resto de mamão, folhas de alface que passaram do ponto… tudo isso ia direto para o lixo comum, ocupando espaço, enchendo sacolas e contribuindo para um problema muito maior do que parece: o acúmulo de lixo em aterros e a emissão de gases poluentes.
Compostar é reduzir. É enxugar o volume de lixo, gastar menos sacolas, produzir menos cheiro e, acima de tudo, gerar menos impacto ambiental. Desde que comecei, meus resíduos caíram drasticamente — e isso sem mudar minha alimentação ou rotina de cozinha.
Mas, mais do que um hábito prático, eu vejo a compostagem como um gesto político. Um ato diário de resistência contra a lógica do descarte fácil, contra o pensamento de que “é só lixo”. Compostar é lembrar que a natureza não joga fora — ela transforma.
E se você pensa que isso exige espaço, varanda ou quintal, te garanto: não é sobre estrutura, é sobre intenção. Eu comecei num cantinho do armário da lavanderia, com um balde simples e muita curiosidade. E foi o suficiente.
Mais interessante ainda é como esse pequeno gesto puxa outros. Quando a gente começa a compostar, passa a repensar o consumo, a separação do lixo, o uso de embalagens, o cuidado com as plantas. É como se, ao alimentar a terra, a gente também alimentasse a vontade de viver de um jeito mais gentil — com o planeta e com a gente mesma.
Como Funciona Meu Sistema com Balde Fechado
Quando comecei a pesquisar sobre compostagem doméstica, confesso que achei que seria mais complicado do que realmente é. Mas, por sorte (e muita tentativa e erro), descobri que com um balde de plástico com tampa e torneira, já dá pra começar.
O meu sistema é bem simples: uso dois baldes empilhados, sendo que o de cima é perfurado no fundo e funciona como o local onde coloco os resíduos orgânicos. O de baixo coleta o líquido (o famoso chorume), que escorre aos poucos e pode ser drenado pela torneirinha. Comprei os baldes em loja de material de construção e adaptei a torneira com uma peça de filtro de barro. Nada muito técnico — só boa vontade mesmo.
Para evitar odores, sempre cubro cada camada de resíduo com matéria seca: folhas secas que pego na rua (de forma consciente), serragem de madeira sem tratamento químico ou até papel picado. Essa “camadinha mágica” ajuda a manter o equilíbrio e evita que o balde exale qualquer cheiro ruim.
E olha, mesmo sem varanda, nunca tive problema sério com cheiro ou insetos. A chave está em manter o balde bem fechado, respeitar o que vai ou não para dentro e, sempre que possível, dar uma mexidinha com uma pazinha para ajudar na aeração. Ele fica num cantinho da lavanderia, escondido, mas ativo — fermentando, transformando, criando adubo que depois vira vida nas minhas plantinhas.
É o tipo de coisa que a gente começa meio na dúvida, mas depois se pergunta como viveu tanto tempo sem.
O que Eu Coloco (e o que Evito) na Compostagem
No começo, bate aquela dúvida: o que pode ir no balde? O que vai virar adubo e o que pode atrapalhar o processo? Eu também me perguntei isso mil vezes. Mas logo percebi que a compostagem tem suas regras naturais, e com o tempo, a gente aprende a ouvir o que ela precisa.
No meu balde fechado vão, basicamente, restos crus e orgânicos:
🍌 Cascas de banana, manga, mamão
🥕 Restinhos de cenoura, batata, abobrinha
☕ Borra e filtro de café (sem plástico!)
🥚 Cascas de ovo bem trituradas
🍎 Talos de vegetais e folhas que passaram do ponto
Esses são os “ingredientes úmidos”, ricos em nitrogênio — ótimos para alimentar os microrganismos que fazem a mágica acontecer.
Por outro lado, eu evito tudo o que pode atrair insetos, causar mau cheiro ou desequilibrar a decomposição:
🚫 Restos de carne ou peixe
🚫 Alimentos cozidos, temperados ou com óleo
🚫 Laticínios e pão
🚫 Casca de cítricos em excesso (uso só um pouquinho, picado)
O truque de ouro que aprendi foi o equilíbrio entre o que é úmido e o que é seco. Sempre que coloco restos de comida, cubro com um punhado de serragem, folhas secas ou papel picado — o que chamam de “camada de carbono”. Isso ajuda a manter o balde arejado, sem cheiro e funcionando direitinho.
No fundo, é como uma receita de bolo: com o tempo, a gente pega o jeito e vai fazendo no olho. E é lindo ver que o que antes era “lixo” agora vira um presente pro solo, e depois, para o jardim.
Como Uso o Chorume no Meu Jardim Vertical
Eu confesso: quando ouvi a palavra “chorume” pela primeira vez, imaginei algo bem desagradável. Mas, na compostagem, esse nome se refere a um líquido rico em nutrientes que escorre dos resíduos orgânicos — e que, se usado corretamente, vira um adubo poderoso e gratuito.
Aqui em casa, recolho esse líquido no balde de baixo do meu sistema de compostagem e guardo em uma garrafinha reaproveitada. A diluição é essencial: para cada 1 parte de chorume, misturo de 10 a 15 partes de água. Essa proporção é importante para não queimar as raízes das plantas.
Depois de diluído, uso um regador pequeno (ou até uma garrafa com furinhos) para aplicar nas minhas plantas do jardim vertical. Tento variar: ora nas samambaias da sala, ora na jiboia da cozinha. E o resultado? É nítido. As folhas ficam mais verdes, brilhantes, o solo parece mais “vivo”, mais fértil. Sinto que estou nutrindo não só as plantas, mas todo o ciclo que começa lá na minha cozinha, com os restos de comida do dia a dia.
O mais bonito de tudo é saber que esse adubo líquido saiu do que seria descartado. É economia, é sustentabilidade e é, acima de tudo, uma forma de reconexão com a natureza — mesmo em meio ao concreto.
Desafios e Aprendizados do Processo
Nem tudo foram flores — ou folhas verdinhas — no começo. Fazer compostagem em apartamento, sem varanda, exige uma dose de coragem e muita curiosidade. Um dos primeiros desafios foi encarar o nojo inicial. A ideia de lidar com “restos” dentro de casa, o medo do cheiro, das mosquinhas… tudo isso assustou um pouco. Mas a verdade é que a compostagem é muito mais limpa (e cheirosa!) do que dizem por aí — especialmente quando a gente aprende a cuidar dela.
Claro, imprevistos acontecem. Já deixei o balde acumular líquido demais, e precisei aprender a drenar com frequência. Já esqueci de adicionar matéria seca e vi as formiguinhas darem as caras. Hoje, sei que manter o equilíbrio é o coração do processo — e que cada erro foi, na verdade, um passo rumo ao acerto.
Mas o maior aprendizado mesmo foi o de respeitar o tempo da natureza. A compostagem não é instantânea. Ela acontece no tempo dela, com paciência e silêncio. E isso me ensinou a desacelerar também. Nem tudo na vida precisa ser imediato. Algumas coisas precisam fermentar, maturar, ganhar consistência — como o solo, como a gente.
Aprendi que a compostagem não é só sobre o lixo. É sobre cuidado, presença e transformação. E isso, pra mim, vale cada pequeno desafio.
Qual Balde Escolher para Começar a Compostagem (Spoiler: Não Precisa Ser Caro)
Antes de começar, passei dias pesquisando o “balde perfeito”. Achei opções com torneira, separador, filtro de carvão, tampa vedada… até pensar: e se eu só começar com o que eu tenho? Foi o que fiz — e funcionou.
Se você está começando, procure por:
- Capacidade entre 10 e 20 litros: suficiente para restos de cozinha por alguns dias e ainda cabe embaixo da pia ou em um cantinho da área de serviço.
- Tampa que veda bem: isso é essencial pra evitar cheiro e mosquitinhos. Se tiver trava lateral, melhor ainda.
- Material fácil de limpar: baldes plásticos mais resistentes funcionam super bem. Eu uso um balde de tinta reutilizado, com tampa reforçada.
- Formato cilíndrico ou com base larga: facilita misturar os resíduos e usar depois como composteira secundária, se quiser evoluir o sistema.
Se você quiser investir, existem baldes prontos para compostagem (como os do sistema Bokashi), mas a verdade é que o mais importante é começar. Dá pra montar o seu sistema com pouco — e adaptar conforme for entendendo o que funciona na sua rotina.
Pronta(o) para plantar seu jardim?
Se tem uma coisa que a compostagem me ensinou é que a sustentabilidade não mora nas grandes mudanças — ela vive nas pequenas decisões que tomamos todos os dias. Separar um resíduo aqui, guardar uma folha seca ali, reaproveitar, cuidar, transformar. E de repente, o que parecia pouco vira muito.
Compostar dentro de casa, mesmo sem varanda, foi uma forma de me reconectar com os ciclos naturais — e perceber que dá sim pra viver em harmonia com a natureza, mesmo cercada de concreto e rotina. O segredo está em começar com o que se tem, onde se está, com o espaço, os recursos e o tempo possíveis.
Se você sentiu vontade de tentar, esse é o convite: experimente. Um balde, um punhado de cascas e a coragem de acreditar que seus restos podem virar vida. Porque podem. Porque viram.
“Transformar restos em vida é um jeito bonito de dizer que acreditamos no amanhã.” 🌱